Esqueceram-se do Cais das Colunas com as inscrições Salazar e Carmona
Muitos portugueses travaram-se recentemente de razões pela retirada ou manutenção dos brasões florais da Praça do Império, em Belém, alusivos às ex-colónias portuguesas.
Mas a cinco quilómetros da Praça do Império, no sentido oriental de Lisboa, o célebre Cais das Colunas do Terreiro do Paço tem uma inscrição certamente bem mais fracturante.
Na coluna do rio Tejo do lado esquerdo, do lado oriental está inscrito: “A segunda viagem do Chefe de Estado às terras ultramarinas do Império: Cabo verde, Moçambique e Angola. XVII de Junho-XII de Setembro de MCMXXXIX. A viagem do Chefe do Estado às terras do Império em África está na mesma directriz das nossas preocupações e finalidade, é manifestação do mesmo espírito que pôs de pé o Acto Colonial. Salazar.”
Trata-se de alusão ao discurso de Salazar por ocasião da segunda viagem às colónias, no espaço de um ano, do então presidente da República Óscar Carmona. Corria o ano de 1939, Carmona partiu do Cais das Colunas a 17 de junho e regressou ao país a 12 de setembro, quando a II Guerra Mundial tinha deflagrado duas semanas antes, a 1 de setembro.
O Acto Colonial, promulgado a 8 de julho de 1930, quando Salazar era ministro das Colónias, instala a ideia de que Portugal é uno e indivisível das colónias africanas.
Na coluna do rio Tejo do lado direito, no lado ocidental, está inscrito: “Aqui embarcou o Chefe do Estado para a primeira viagem às terras ultramarinas do Império, São Tomé e Príncipe e Angola, XI de Julho-XXX de Agosto de MCMXXXVIII com a certeza de que fala pela minha voz Portugal inteiro, proclamo a unidade indestrutível e eterna de Portugal. Carmona”
Aqui faz-se referência a um discurso nacionalista e apoteótico de Carmona por ocasião das viagens.
Estas foram um grande acontecimento nacional que mobilizou todas as forças do regime salazarista, em vésperas da Exposição do Mundo Português, em 1940, comemorando a Fundação de Portugal (1140), a Restauração da Independência (1640), a afirmação do Estado Novo e a ligação umbilical da Metrópole às colónias.