Por que é que o PS é assim?
Há uma cultura no PS de pressão e utilização políticas de órgãos independentes.
O que é mais grave no caso Galamba é a facilidade com que o seu ministério moveu contactos junto do aparelho do Estado contra o ex- adjunto Frederico Pinheiro e a recolha do seu computador pessoal. Ninguém disse que não e até deram conselhos para envolver mais entidades, como aconteceu com um adjunto do primeiro-ministro, que aconselhou chamarem o SIS. Se tudo isto fosse uma série de humor, podiam ter chamado a NATO.
Independentemente do resultado das investigações em curso do Ministério Público, não é crível que o computador de Frederico Pinheiro tivesse matérias de Estado altamente classificadas.
Uma relação estreita de Galamba com Pinheiro e a ruptura, explosiva por terem duas personalidades musculadas e exóticas, pode ser a explicação para se ter perdido o pé. Mais difícil de explicar é o contágio a outros membros do governo. Mas há hipóteses a colocar. A ministra da Justiça, sem peso político no executivo, foi voluntariosa a envolver a Polícia Judiciária, talvez por saber que Galamba está no círculo político estrito do Governo, onde manda António Costa. Quanto ao adjunto de Costa, o mais provável é estar imerso no espírito de revolta contra Marcelo Rebelo de Sousa por este sugerir a cabeça de Galamba com o lugar do ministro ainda fresco, levando ao cume uma longa estratégia de tutela do governo. Aqui também pode estar a explicação para Costa se ter colado a Galamba e pôr a cabeça no cepo com ele: não aguentou tanta desfaçatez de Marcelo.
Não é a primeira vez, nem será a última, no quadro de um regime político cada vez mais caduco, mas que não se vê o fim porque não se vê saída, que o PS pressiona os órgãos independentes.
Em 2003, por causa da prisão de Paulo Pedroso, António Costa telefonou ao então Procurador Geral da República, Souto Moura, para a tentar evitar. Ferro Rodrigues, então secretário-geral do PS, tentou envolver o Presidente da República Jorge Sampaio. É o que sabe, fora o que não se sabe, num país onde é fácil esconder estas pérolas nos subterrâneos. Isto passou-se estava o PS na oposição. Imagine-se o que seria se estivesse no poder.
No tempo da maioria absoluta de José Sócrates assistiu-se à maior manobra de intimidação da comunicação social já vista na III República. Todos se lembram da forma como Socrátes era insolente com os jornalistas. A tentativa de controlo da TVI, investigada judicialmente, demonstra o ponto a que as coisas chegaram.
Porque é que o PS é assim? O actual regime foi sobretudo uma criação do PS. Ganhou as primeiras eleições de 1975, venceu na rua, com o apoio de toda a direita, as forças extremistas de esquerda, foi o primeiro governo constitucional da democracia, o seu líder Mário Soares nunca gostou de ser escrutinado por outros poderes e não se coibiu de os pressionar (como se provou no ataque que fez à Justiça no caso Sócrates). O PS enche a Administração Pública dos seus militantes e simpatizantes há muitos anos. Porta-se como se fosse o dono do país.
É evidente que do lado do PSD há outras agruras, ainda que não um empoderamento tão grave das estruturas do Estado, mas essa é uma história para outro capítulo.