PSD: nem sensibilidade nem bom senso
A direita não tem sensibilidade nem bom senso e tem-lo demonstrado espantosamente sempre que governa
Um mês de Governo de Montenegro e os casos já são muitos.
A arrogância da ministra do Trabalho Rosário Palma Ramalho promete, a avaliar pela forma como tratou as duas Anas, Ana Jorge e Ana Vasques.
Aguiar Branco, o nº 2 da hierarquia do Estado, validou as palavras do líder do Chega, André Ventura, quando disse hoje no Parlamento : “Podemos ser muito melhores que os turcos, que os chineses, que os albaneses, vamos ter um aeroporto em cinco anos”.
O líder parlamentar do BE, Fabian Figueiredo, criticou Ventura: “atribuir características e estereótipos a um povo não deve ter espaço no debate democrático da Assembleia da República”.
Na resposta, o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar Branco, disse discordar da posição do bloquista.
“Não concordo, porque o debate democrático é cada um poder exprimir-se exatamente como quer fazê-lo. Na opinião do presidente da Assembleia, os trabalhos estão a ser conduzidos assegurando a livre expressão de todos os deputados, não tem a ver com o que penso pessoalmente, não serei eu o censor de nenhum dos deputados”, referiu Aguiar Branco, apoiando Ventura.
A líder parlamentar do PS, Alexandra Leitão, também pediu a palavra para questionar “se uma determinada bancada disser que uma determinada raça ou etnia é mais burra ou preguiçosa também pode”.
“No meu entender, pode. A liberdade de expressão está constitucionalmente consagrada. A avaliação do discurso político que seja feita aqui nesta casa será feita pelo povo em eleições”.
A associação SOS Racismo defendeu, entretanto, que o presidente da Assembleia da República não tem condições para continuar no cargo, depois de ter afirmado que o uso de linguagem que qualifica raças depreciativamente é admissível pela liberdade de expressão.
Em comunicado, a SOS Racismo “apela ao Ministério Público que instaure os procedimentos legalmente previstos para que as condutas em causa sejam devidamente investigadas”, citando o previsto no Código Penal, no artigo 240.º, no que diz respeito ao crime de discriminação e incitamento ao ódio.
A polémica promete não ficar por aqui.
A direita não governava desde 2015. Como foi com Passos Coelho?
O ex-primeiro-ministro laranja mandou os jovens portugueses emigrar.
Quis aumentar as contribuições obrigatórias para a segurança social e diminuir a dos trabalhadores.
Nunca bateu o pé à troika e foi muito para além dela, ao ponto do criador político de Passos Coelho (Ângelo Correia) ter dito que ele era um “devoto à troika” e falar numa espécie de síndrome de Estocolmo.
Mais recentemente, Paulo Portas comentou: “Passos Coelho achava que a troika era um bem virtuoso, já eu achava que era um mal necessário”.
E como foi com Santana Lopes dez anos antes? O verdadeiro descalabro.
Basta lembrar que depois de muitas trapalhadas acumuladas com vários ministros, alguns demitidos outros demissionários, o governo caiu porque um amigo ministro de Santana Lopes (Henrique Chaves) sentiu-se desprestigiado por passar de ministro adjunto a ministro do Desporto e também se demitiu…. Ficou nos anais da política portuguesa o que um taxista disse ao Presidente Jorge Sampaio quando este fazia jogging na Avenida da Liberdade: “Por favor Senhor Presidente, livre-nos deste governo”
Dois anos antes de Santana Lopes, governou Durão Barroso. Depois de nos 1990 ter feito da conquista da liderança do PSD a sua grande batalha de vida, foi-se embora do país, para presidente da Comissão Europeia, sem sensibilidade nem bom senso com apenas 24 meses de primeiro-ministro mas já estafado politicamente como se governasse há dez anos.
Antes de Barroso vamos ter aos tempos do Professor Cavaco Silva. Inegavelmente capaz, ainda que muito beneficiado pelos primeiros grandes fundos europeus, Cavaco foi sempre um monstro da insensibilidade. Conspirou contra Francisco Pinto Balsemão e Mota Pinto e depois de chegar ao poder, em 1985, iniciou um processo de centralização do poder, no partido e no país, como nenhum outro político desde o 25 de Abril. Humilhou ministros que não lhe perdoaram e prescindiu de outros que o tinham ajudado decisivamente na ascensão, como Eurico de Melo. A maior desfeita foi, porém, com Fernando Nogueira, um homem que tudo fez por ele nos dez de governação cavaquista. Candidato a primeiro-ministro contra António Guterres em 1995, Nogueira quis fazer uma ligação política de Cavaco à sua candidatura, anunciando a disponibilidade deste para ser candidato presidencial nas eleições de 1996. Cavaco desmentiu publicamente Nogueira, ainda que bem soubesse que ia ser mesmo candidato presidencial … e causou danos irremediáveis na campanha de Fernando Nogueira, derrotado clamorosamente por Guterres nas legislativas de 1995.