Quando Eanes entrou armado em Belém para falar com Costa Gomes
Há quem acuse o então Presidente da República, Costa Gomes, de só tardiamente apoiar a ala moderada militar no golpe de 25 de Novembro de 1975.
As forças moderadas comandadas por Ramalho Eanes, Vasco Lourenço e Jaime Neves não quiseram actuar fora do quadro legal e empenharam-se em ter o apoio de Costa Gomes para vencer as forças militares de esquerda e extrema esquerda, apoiadas pelos partidos desta área, entre os quais o PCP, que protagonizaram o golpe, sobretudo forças da Polícia Militar e da Marinha.
Costa Gomes, um general cauteloso, que gostava de ter a certeza para que lado pendia a situação, só permitiu a actuação dos moderados cerca das 17 horas de 25 de Novembro — as forças extremistas tinham iniciado as movimentações às primeiras horas da madrugada – após Ramalho Eanes ter ido ao Palácio de Belém armado para pressionar Costa Gomes a dar-lhes luz verde .
Quem o conta é o general Tomé Pinto, que acompanhou Eanes na deslocação.
“Já ao fim da tarde, por cerca das 17h00, fui num helicóptero com o General Eanes, fardado (eu ia à civil) e aterrámos no páteo do Palácio, com acesso para a Calçada da Ajuda. No trajecto, perguntou-me se eu ia armado, tendo respondido negativamente. Então tirou uma pistola Parabellum e foi com ela, na mão, que entrou pela Presidência dentro. Enquanto esteve no gabinete do Presidente, ainda armado, eu fiquei no salão com o Rocha Vieira e o Loureiro dos Santos e outros oficiais, que lá se encontravam “.
“[Costa Gomes] aceitou o ‘Grupo Militar” [dos moderados] por cerca das 12h00 (…) mas apenas permitiu o accionar das forças para a actuação nessa altura, por volta das 17h00”.
Tomé Pinto diz ainda que quando Eanes saiu do Palácio de Belém também “vinha com a garantia da declaração do estado de sítio”, decretado por Costa Gomes às 21h00, o primeiro e único estado de sítio decretado em Portugal.
Fonte: Manuel A. Bernardo, Equívocos e Realidades, Portugal 1974-1975, Volume II, Editora Nova Arrancada, Lisboa 1999