Quando Pinheiro de Azevedo quis prender Mário Soares no 11 de Março de 1975
O registo sonoro da Assembleia do MFA de 11 de Março de 1975, durante anos nas mãos do malogrado Comandante Carlos Almada Contreiras, falecido recentemente, e divulgado na íntegra em 2019 num programa da RTP, não permitiu apenas conhecer os pedidos de fuzilamento dos implicados no golpe de Estado spinolista desse dia.
Na chamada Assembleia “selvagem”, no entanto legalmente presidida pelo Presidente da República, Francisco Costa Gomes, houve quem quisesse prender suspeitos de conluio com Spínola, como, por exemplo… Mário Soares.
O registo integral da Assembleia, também publicado no livro da autoria de Almada Contreiras, Vasco Lourenço e Jacinto Godinho “A noite que mudou a revolução de Abril” (Edições Colibri), permite ouvir o seguinte diálogo.
“FRANCO CHARAIS: – Era meio-dia qualquer coisa, eu descia com o meu carro ali à frente à fachada de baixo do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Fui precedido por um carro, dele saiu o Ministro dos Negócios Estrangeiros [Dr. Mário Soares] e ele perguntou o que se estava a passar.
Ele parecia muito alarmado. Eu disse-lhe o que se estava a passar. Pedi-Ihe para ele entrar em contacto com o Gabinete de…
(Vozes na mesa sobrepõem-se)
VOZ: – Será que ele sabia?
COSTA GOMES: – Eu não vou dizer que não.
PINHEIRO DE AZEVEDO: – Eu não vou nisso. Sendo assim prende-se aquele gajo, pá!
COSTA GOMES: – Ah, isso não!
FRANCO CHARAIS: – (…) e procurar prestar contas ao Movimento das
Forças Armadas.
(Vozes sobrepostas)
PINHEIRO DE AZEVEDO (em voz baixa para Costa Gomes): – Meu General, está a brincar connosco. Então se o gajo que está a dizer que o ouviu!”.