Quando Vasco Gonçalves quis que Mário Soares pagasse a conta do avião
Mário Soares chegou a Lisboa do exílio em Paris a 30 de Abril de 1974, foi a correr para o Palácio de Belém ter com o presidente da Junta de Salvação Nacional António de Spínola e este, face aos bons contactos internacionais de Soares, pediu-lhe para apresentar o novo regime pela Europa.
O líder do PS, depois nomeado ministro dos Negócios Estrangeiros do I Governo Provisório a 16 de Maio, abraçou imediatamente o desafio, ao ponto de partir no 1º de Maio à noite para as principais capitais da Europa.
Spínola colocou um avião da TAP à disposição de Soares e, apesar do líder do PS se deslocar a pedido oficial e em trabalho, um ano após, no calor do PREC e da luta encarniçada entre o PS e o PCP, Vasco Gonçalves apresentou-lhe a conta da viagem. É Mário Soares quem o conta, por ocasião do colóquio de História Contemporânea, na Universidade de Lisboa em Novembro de 1998 (editado em livro com o título “Portugal e a Transição para a Democracia” pelas Edições Colibri)
“O general Spínola pôs à minha disposição um avião da TAP, em que viajei apenas eu com mais meia dúzia de pessoas. Curiosamente, vários meses depois, na altura mais difícil do chamado ‘PREC’, o General Vasco Gonçalves entendeu que devia ser eu a pagar a conta desse avião. Apresentou-me uma nota de despesa do avião que eu tinha realmente utilizado para me deslocar a Helsínquia e a outras capitais europeias. Mas eu disse-lhe: ‘Bem, senhor General, isso eu não com certeza, mas o Senhor pode pôr uma acção contra mim e eu defendo-me em tribunal’. Claro que a coisa ficou por aqui”.