Queques que guincham
António Costa tem mais que razões para se sentir um nababo.
Antes de 2015, quando chegou a líder do PS, António Costa vinha já bem credenciado no que respeita a eleições. Ganhou três em Lisboa, a Fernando Negrão, Santana Lopes e Fernando Seara, respectivamente em 2007, 2009 e 2013. Nesta última obteve maioria absoluta, fazendo naufragar não só a direita mas também o PCP e o Bloco de Esquerda, numa epifania do que que viria a acontecer nas legislativas de 2021.
Nas eleições legislativas de 2015 é como se tivesse ganho ao derrubar de facto e de direito o muro de Berlim português ao fazer a geringonça com o PCP e o Bloco de Esquerda, o que a direita não conseguiu anular porque efectivamente perdeu em termos direita/esquerda.
E com este derrube de muro, enviou definitivamente para casa o masoquista de Massamá, que mandou emigrar os portugueses e aumentar a taxa social única para os trabalhadores.
Ou como disse um dia Ângelo Correia, Passos tornou a obrigação perante a troika numa espécie de devoção, criando o seu síndroma de Estocolmo.
Também transformou Cavaco Silva em fim de carreira num homem armargurado e ressabiado com a geringonça e mais tarde com a maioria absoluta de António Costa, a segunda do PS com diferentes líderes, o que o PSD nunca conseguiu. Cavaco nunca mais se recompôs, como provam os artigos pífios recentes, que pariram um rato, nos antípodas dos Monstros e da Lei de Gresham de há 20 anos, que desfizeram primeiro António Guterres e depois Santana Lopes.
Em 2019, António Costa voltou a ganhar as eleições legislativas, arrasando o novo Calisto Elói do PSD, Rui Rio. Deu para tudo, inclusivé para o PC e o Bloco de Esquerda também desfrutarem dos laranjinhas e obterem excelentes resultados eleitorais.
Depois, em 2020, tal como aconteceu após a queda do muro de Berlim, quando alguns comunistas e esquerdistas continuaram a viver noutra realidade, o PC e o Bloco de Esquerda, glutões, acharam que a sua força estava mal avaliada e partiram para eleições legislativas antecipadas.
Costa fez deles quase partidos do táxi e obteve maioria absoluta em 2021. De caminho, deu mais uma lição a José Sócrates, que estava convencido que o exclusivo da maioria absoluta do PS, em 2005, era seu.
Em 2025, num dia glorioso para o próprio, Costa deve tornar-se o primeiro-ministro português há mais tempo no poder, superando os 10 anos de Cavaco Silva.
Portanto, respeitinho a António Costa. Tem direito a ver guinchos nos queques e não dar bola a Moedas.
Ou na versão de Cavaco Silva, tem direito a dizer: Deixem-me trabalhar.