Rui Rio: a tragédia de um homem vulgar
Rui Rio conta manter o poder no PSD com os “militantes” e não com os “notáveis”, como disse à comunicação social.
Ora, mandar os barões e notáveis às urtigas nos partidos do cartel português (PS e PSD) e mesmo assim chegar ao poder só com os militantes é uma situação rara, só para homens invulgares e excepcionais, o que manifestamente não é o caso de Rui Rio.
Em Portugal, só conhecemos dois casos excepcionais: Mário Soares e Sá Carneiro.
Mário Soares enfrentou sozinho os notáveis em peso do PS, amigos do Presidente Ramalho Eanes, em 1980. Auto-suspendeu-se de secretário-geral do PS mas regressou vitorioso, ao colo dos militantes, voltando a ser primeiro-ministro e depois Presidente da República.
Sá Carneiro é um caso ainda mais flagrante de vitória sobre os barões do seu partido, tendo ganho verdadeiramente o PSD quase só com os “militantes” e contra (quase) todos os barões, ao ponto de ter ficado sem 37 deputados notáveis que abandonaram o PSD, passaram a independentes e hão-de formar a ASDI, o partido que em 1980 se alia com o PS para formar a malograda Frente Republicana e Socialista.
Ter coragem, carisma e bandeiras políticas são outros factores decisivos para se poder ganhar o poder sem notáveis e só com militantes. Tanto Mário Soares como Sá Carneiro tinham uma personalidade luminosa e a ideia de um projecto civilista e de uma democracia de tipo europeu para Portugal.
Sá Carneiro é também aqui o caso mais flagrante.
Após o 25 de Novembro de 1975, vencidos o PCP e a extrema esquerda, Sá Carneiro cedo percebeu que Ramalho Eanes e os militares moderados eram só um pouco menos marxistas do que os esquerdistas derrotados. Desenvolveu então uma luta contra eles que de início ninguém percebeu. Como ninguém percebeu a luta de Churchill contra a Cortina de ferro ainda a vitória na II Guerra Mundial ao lado dos russos estava quente.
Foram os militares moderados, através de Melo Antunes, que branquearam o papel golpista do PCP no 25 de Novembro. O PCP agradeceu e pagou mais tarde com votos, o que Sá Carneiro nunca tolerou.
Os comunistas apoiaram a reeleição de Ramalho Eanes em 1980, o que levou Sá Carneiro a um ataque impiedoso a este último. Como é sabido, a saga nunca mais terminou, sendo o PCP a bengala que deu vitórias ao próprio Mário Soares, a Jorge Sampaio e a António Costa (com a sua geringonça)
Quando Sá Carneiro morreu, os militares ainda continuavam na política. Mas foi por pouco tempo. Em 1982, quando tudo findou (claro que foram aparecendo fogachos, até nos tempos de hoje, como prova a oposição de notáveis militares à reorganização das Forças Armadas), Sá Carneiro é talvez o vencedor principal a título póstumo.
Esta fibra, esta visão política de Mário Soares e Sá Carneiro, traduziu-se em vitórias no país. No caso de Soares, a vitória nas eleições legislativas de 1983 e a vitória nas eleições presidenciais de 1986 (e a sua reeleição em 1991). No caso de Sá Carneiro, a vitória, com a AD, nas eleições intercalares de 1979 e nas eleições legislativas de 1980, talvez o fenómeno político mais importante do regime, pelo que representou de alternância política, apenas quatro anos depois do 25 de Abril e três anos após o PREC e o domínio do PCP e da extrema-esquerda nas ruas.
Para Rui Rio, todo este mundo é um espelho que evidencia apenas as suas monumentais incapacidades.
Em quase quatro anos de liderança do PSD, não se conhece um projecto político a Rui Rio. Praticou um erro original que nunca mais conseguiu emendar: fazer pairar a possibilidade de uma coligação com o Chega, assumindo ab initio a fraqueza do PSD para alcançar maioria absoluta ou mesmo governar em minoria, como fez António Guterres nos anos 1990. Em matéria de votos, há um mundo que Rio não consegue transpor. Perdeu as eleições legislativas e europeias de 2019 e as autárquicas de 2021 (Moedas foi o vencedor e não Rio). De derrota em derrota, até à derrota final. Nas directas do PSD em que enfrentará Paulo Rangel, praticamente não tem notáveis e os militantes que restam devem ditar-lhe a sentença, dando a vitória a Rangel.
Bom dia
Não concordo com esta análise, acho-a declaradamente tendenciosa diria mesmo maliciosa.
O país precisa de lideres nacionais no verdadeiro sentido da palavra e não de quem se sirva do partido para se autopromover assessorado por “barões” mais ou menos coniventes com um status partidário que coordena os seus próprios interesses e manipula os alheios.
Os partidos devem representar democraticamente as suas bases diria mais corretamente os Portugueses na sua generalidade e nunca, mas nunca os barões e ou os militantes “interesseiros”.
Rui Rio pode não ter sido a melhor oposição, mas mostrou que o interesse nacional não se deve sobrepor ao oportunismo do momento para quezilar acções activas de governo (por ex. a pandemia) ainda que gravosas só porque se é oposição.
Isso é ocupação bacoca de uma classe política que se serve a si mesmo e esquece a objetividade do princípio da sua eleição, sempre, mas sempre o interesse nacional.
Isto não é utopia, é possível com gente corajosa e bem-intencionada disposta a liderar uma equipa toda ela com “comando” com ou sem barões, mas assertiva como fez o Almirante Gouveia e Melo, nem esquerda nem direita, nem ricos nem pobres, só o interesse nacional.
Rui Rio demonstrou pensar prioritariamente no país, sem esquecer a sua liderança partidária, ambicionada internamente por sequiosos pretendentes, descarados, ferozes e intencionais manipuladores como o artigo acima referenciado.
24/10/2021
F. Lopez
Bom dia,
Concordo em pleno com o comentário anterior.
Provavelmente quem escreveu a análise foi um “Paulo Rangel”.
28-10-21
JGomes