Tentar eliminar o líder inimigo é uma boa estratégia?
O presidente ucraniano Volodymyr Zelenski quer eliminar o inimigo e homólogo russo Vladimir Putin. O presidente norte-americano Joe Biden apelou aos russos para deporem Putin. Este certamente paga na mesma moeda a Zelensky e Biden.
Mas vale verdadeiramente a pena decapitar um inimigo? O famoso cientista político norte-americano John Mearsheimer, professor da Universidade de Chicago pensa que não e fundamenta no seu livro “A Tragédia da Política das Grandes Potências” (editora Gradiva, Lisboa 2007)
“A decapitação é uma estratégia caprichosa. Apesar do exemplo de Dudayev [alusão ao assassinato pelos russos, em 21 de Abril de 1996, do líder checheno Dzhokhar Dudayev durante a guerra da Chechénia) , é especialmente difícil localizar e matar um líder político rival em tempo de guerra. Mas, mesmo que ocorra a decapitação, é pouco provável que as políticas do sucessor venham a ser substancialmente diferentes das do predecessor morto. Esta estratégia é baseada na enraizada convicção americana de que os estados hostis são essencialmente compostos de cidadãos benignos controlados por líderes malévolos. Remova-se o líder malévolo e, segundo esta lógica, as forças do bem triunfarão e a guerra rapidamente terminará. Esta estratégia não é muito promissora. Matar um líder em particular não garante que dos seus lugares-tenente próximos não venha a substitui-lo. Por exemplo, tivessem os aliados conseguido matar Adolf Hitler e provavelmente teriam Martin Bormann ou Hermann Goering como seu substituto, nenhum dos quais teria representado uma grande melhoria em relação a Hitler. Além disso, os dirigentes malévolos, como Hitler, gozam muitas vezes de vasto apoio popular: não só porque representam, por vezes, as opiniões dos cidadãos do estado, mas porque o nacionalismo tende a criar laços estreitos entre os dirigentes políticos e as suas populações, especialmente em tempo de guerra, quando todos os envolvidos enfrentam uma ameaça externa poderosa”