Um milhão e cem mil facadas Chega no país
A 10 de Março de 2024, um milhão e cem mil portugueses votou no Chega como quem dá uma facada no país. Lembra o enredo do romance policial Crime no Expresso do Oriente, da escritora Agatha Christie, onde um homem é encontrado morto com 12 facadas da autoria de 12 passageiros do comboio, cada um com os seus motivos muito próprios para cometer o crime …
No caso do eleitorado do Chega, muito mais transversal sociologicamente do que se pensa, deram uma facada contra o quê, votaram contra quê?
— Ausência de reformas estruturais que fazem com que muitos serviços do Estado funcionem mal.
— Falta de políticas e decisões adequadas para resolver problemas nacionais prementes, como o novo aeroporto de Lisboa e a questão da habitação.
— Repartição da esmagadora maioria dos cargos no Estado entre o PS e o PSD há quase 50 anos.
— Lei eleitoral que não permite a candidatura de listas independentes de cidadãos.
— Promiscuidade de cargos entre o sector político e o sector económico e financeiro.
— Politicas centralizadoras, sem desenvolvimento sustentável, por exemplo no Alentejo, nos distritos de Portalegre e Beja.
— Facilitismo com a lei de nacionalidade e a lei da imigração sem criar primeiro estruturas do Estado que funcionem face à pressão populacional, nomeadamente no sector da saúde e transportes.
— Distorção inflacionista dos preços, por exemplo na habitação e em restaurantes, em virtude da residência em Portugal ou nacionalidade de estrangeiros com forte poder económico.
— aumento das assimetrias económicas, revoltando não só as populações de menores recursos mas também as classes médias.
— Revolução tecnológica que altera a estrutura de produção e dos serviços, implicando o fim de carreiras activas de muitos trabalhadores e mais desemprego.
— Falta de uma política estrutural, nacional e regional, de reconversão tecnológica de parte da população activa e não activa.
— Turismo excessivo em muitos centros urbanos e até rurais sem políticas urbanas e de habitação estruturais.
— mono-economia dependente do turismo.
— Pressão turística aliada a atracção de mão de obra imigrante muito elevada em zonas do país, como no Algarve, desestruturando sectores nacionais residentes.
— Incentivos fiscais a estrangeiros de forte porte económico para fixarem residência em Portugal sem se definir previamente uma política de habitação nacional.
— Políticas de salvação de bancos à custa do dinheiro do contribuinte e lucros excessivos dos mesmos na actualidade, sem a taxação devida em impostos.
— diferenciação de salários e regalias entre os trabalhadores do sector público e do sector privado.
— salários ou rendimentos baixos dos trabalhadores dos sectores produtivos.
— descontentamento dos trabalhadores dos sectores produtivos, com menos formação tecnológica e menores salários com os imigrantes que lhe tiram postos de trabalhos e laboram ainda com menores salários, bem como com o despesismo em apoios e pensões sociais à população não activa.
— Soberba e censura das elites urbanas mediáticas ao Portugal que consideram provinciano, ignorante e boçal.
— Colonização por parte das elites urbanas dos espaços rurais e colisão de estratos económicos e culturas.
— Cultura das elites urbanas em bolha, com circuitos e redes de interesses fechados.
— Guetos urbanos dissociados da realidade urbana da classe média e média alta e vice versa, nomeadamente Sacavém, Casalinho da Ajuda e Horta Nova.
— Dificuldade de convivência crescente da população , sobretudo a de menores recursos, com minorias culturais, ciganas (Portalegre e Beja) e asiáticas (território em geral).
— Comunicação social que não retrata os problemas do país e que vive numa bolha monotemática repetida.
— governação ao sabor de interesses privados e corporativos, nomeadamente da Ordem dos Médicos.
— Incentivo do Estado a políticas de alteração de género masculino/feminino.