Vai ficar tudo bem
Um ano depois da invasão da Ucrânia, qual a análise a fazer?
A Ucrânia ganhou definitivamente a coroa como país independente e mais tarde ou mais cedo entrará na União Europeia.
A Rússia garantiu que tem amigos no mundo e não será derrotada. Qualquer plano de paz, que se concretizará mais tarde ou mais cedo, implicará que a zona sul do Ucrânia fique com um estatuto especial.
Na guerra da Bósnia-Herzegovina, há 30 anos, também parecia impossível conseguir um acordo entre muçulmanos, sérvios e croatas, no entanto esse acordo foi alcançado.
Até hoje, nunca a Bósnia-Herzegovina entrou na NATO. É isso que também deverá acontecer com a Ucrânia a longo prazo, a não ser que a NATO como organização militar, ainda que de natureza pretensamente defensiva, se reforme num sentido mais pacifista.
Os EUA e a União Europeia fortaleceram a sua unidade e esta última provou que pode ser um player internacional, ombro a ombro com os americanos e não constantemente a seu reboque.
A China e os colossos asiáticos, Índia e Indonésia, com as suas posições neutrais no conflito, não decretando sanções contra a Rússia, provaram o seu poder geoestratégico para terem posições autónomas, a eles se devendo, em boa medida, a percepção profunda que o Ocidente teve de que esta guerra não podia ser ganha militarmente, ainda que verbalizasse o contrário.
Ironicamente, se a Rússia não conseguiu vergar a Ucrânia nos primeiros dias de guerra, o Ocidente também não conseguiu humilhá-la com uma derrota.
A Ásia, que nos últimos vinte anos foi o seguro do capitalismo, e até o seu sopro de vida, trabalhando no duro para que o Ocidente compre todos os dias milhões de produtos ao preço da chuva, funcionando como o grande amortecedor social contra convulsões sociais no Ocidente, viu chegada a hora de exigir o seu peso geopolítico.
Do lado do Ocidente, não querer perder esta mina, que tem origem na entrada da China na Organização Mundial do Comércio em 2001, também é uma das razões decisivas para, mais tarde ou mais cedo, se empenhar num acordo de paz para a Ucrânia.
Vão continuar a existir tensões num mundo que é multipolar mas vai ficar tudo bem, talvez precisamente por causa do equilíbrio que a multipolaridade gera, sendo garante da paz.